A Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), da Polícia Civil de São Paulo, vai investigar se houve algum crime na veiculação do vídeo "Especial de Natal", da produtora Porta dos Fundos. A investigação ocorre por conta de uma representação feita pelo deputado Marcos Feliciano (PSC-SP) contra o vídeo no MP-SP (Ministério Público Estadual de São Paulo), que pede indenização de R$ 1 milhão ao grupo humorístico.
De acordo com a assessoria de imprensa do MP-SP, a representação foi recebida pelo promotor de Justiça de Direitos Humanos José Paulo França Piva, que a encaminhou à Decradi para que investigue as denúncias alegadas por Feliciano, de que o vídeo é pejorativo em relação aos cristãos.
Na representação, Feliciano afirma que a esquete possui "conteúdo altamente pejorativo, utilizando-se inclusive de palavras obscenas, e de forma infame atacou os dogmas cristãos e a fé de milhares de brasileiros que comungam deles, ferindo dialeticamente o direito fundamente à liberdade religiosa". O parlamentar afirmou que, caso a indenização seja concedida pela Justiça, será destinada a Santas Casas de Misericórdia.
No vídeo, publicado no YouTube no dia 23 de dezembro, os humoristas fazem uma paródia da trajetória de Jesus Cristo, desde o nascimento até a crucificação. A sátira vem despertando a ira de grupos cristãos.
No Rio, a Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, de Brasília, protocolou no Ministério Público Estadual uma representação criminal contra o grupo. Em Pernambuco, o Ministério Público também foi acionado contra o "Especial de Natal", pelo deputado federal Anderson Ferreira (PR), que afirma que o vídeo ridiculariza a crença cristã.
Marco Feliciano Feliciano também enviou uma carta à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) pedindo que a suspensão do patrocínio ao grupo. Na internet, também há uma petição on-line exigindo que a marca de cerveja Itaipava deixe de bancar os vídeos do site e "de apoiar o ataque ao Cristianismo".
Segundo o Porta dos Fundos, todos os integrantes do grupo são favoráveis à liberdade de expressão, comportamento e crença. "De maneira nenhuma temos o objetivo de desrespeitar a fé, nem ninguém de nenhuma religião. Temos muito cuidado ao fazer nosso trabalho e também temos nossas responsabilidades", disse por telefone ao UOL o humorista João Vicente de Castro. "Não recebemos nenhuma notificação. Estamos esperando."
Fonte: UOL
O que surpreende é que uma pessoa com um histórico tão notório de intolerância como Marco Feliciano encaminhe algo para ser investigado por tal motivo em vez dele mesmo ser o investigado.
Não custa lembrar que esse é o mesmo que colocou em sua defesa feita ao STF quanto à denúncia de racismo que "Citando a Bíblia [...], africanos descendem de Cão [ou Cam], filho de Noé. E, como cristãos, cremos em bênçãos e, portanto, não podemos ignorar as maldições". Curiosamente apesar deste discurso ter sido verdadeiramente utilizado para justificar a escravização de africanos e de seus descendentes muitas vozes se levantam para tentar desvincular a religião cristã do racismo que seus próprios sacerdotes e instituições utilizam para discriminar.
A bancada evangélica , que seguidamente aparece em levantamentos como a mais ausente, inexpressiva e processada do Congresso segue uma das grandes promotoras do racismo institucional por seguidamente ameaçar a laicidade do Estado com seus projetos de leis teocráticas. Ficam 2 perguntas para reflexão:
1 - Como pode a religião majoritária (não só no sentido numérico, mas também econômico e político) ser alvo de intolerância?
2 - E os já incessantemente documentados e denunciados casos de intolerância religiosa contra as religiões de afro-brasileiras receberão a mesma atenção e a mesma pressão por apuração?
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