quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Nos EUA, chapinha brasileira é classificada como tratamento que dá câncer

RIO - Quando Adélia Varga visitou o Brasil há quatro anos, procurou um produto de alisamento de cabelo. Teve uma surpresa: não podia acreditar como a fórmula havia modelado o seu cabelo selvagem, habitualmente muito encaracolado. Adélia então levou para o produto para o salão de Rockville, cidade onde trabalha, nos EUA. E passou a usar regularmente um tratamento com o tal alisante, tanto em si mesma quanto em seus clientes.

- Meu cabelo parecia muito saudável - comentou Adélia, de 38 anos, em entrevista ao jornal "The Washington Post", que fez reportagem sobre os perigos do alisamento de cabelos popular no Brasil - Depois do tratamento, os fios que habitualmente são muito crespos ficavam sedosos e levemente ondulados.

Mas agora Adélia está apreensiva. Fiscais da agência de saúde dos EUA fizeram um alerta de que produtos para alisamento de cabelos cuja fórmula contêm uma substância chamada formaldeído representam um sério risco para a saúde, tanto dos cabeleireiros que manipulam o produto quanto de suas clientes.

A maioria dos alisantes contém formaldeído ou substâncias químicas que liberam formaldeído. E o formaldeído e seus derivados Já foram identificados como substâncias que elevam o risco de câncer. No relatório anual sobre agentes cancerígenos, o Programa Nacional de Toxicologia dos EUA reclassificou o formaldeído como um agente carcinogênico, isto é, que pode causar câncer.

Várias empresas que fazem produtos baseados em formaldeído para alisamento de cabelo estão sob investigação ou foram citados por violações pela Occupational Safety and Health Administration (OSHA) Também a Food and Drug Administration (FDA, a agência que regula alimentos e medicamentos nos EUA) inclui estes produtos como objeto de publicidade falsa, além de investigar as empresas por expor trabalhadores ao formaldeído, acima dos níveis legalmente permitidos.

O Cosmetic Ingredient Review, um painel financiado pela indústria de cosméticos e apoiado pelo FDA, declarou recentemente que, "nas práticas atuais de uso e concentração de formaldeído, os produtos para o alisamento de cabelo com formol e glicol de metileno são inseguros. Entre as ameaças para a saúde estão a alta concentração química do produto, o uso excessivo do produto nos cabelos e a ventilação inadequada durante a aplicação.

O formaldeído é uma substância química, incolor, normalmente com cheiro forte, que tem sido usada por cerca de 70 anos como conservante e agente de ligação. Pode ser um irritante e um alergênico. Algumas pessoas reagem com lágrima nos olhos, corrimentos no nariz e sensação de queima em suas gargantas. Há também reações extremas, tais como tosse, chiado ou até mesmo sintomas asma. E tem havido casos de perda de cabelo e de vômitos, causados por produtos com altos níveis de formaldeído.
Como resultado, avalia David Andrews, cientista da Environmental Working Group, organização de defesa de consumidores:

- Estes produtos foram proibidos na Europa, Canadá e Austrália.
Nos Eua, a Occupational Safety and Health Administration (OSHA) não regula a quantidade de formaldeído em produtos de cabelo usados em salões de beleza. A agência, no entanto, estipula que o ar em um salão de ter mais de 0,75 partes por milhão de partes de formaldeído (fppm) durante um turno de oito horas e não mais de 2 fppm durante mais de período de 15 minutos. O formaldeído é liberado no ar quando um estilista seca cabelo tratado de um cliente com um secador de cabelo ou chapinha.

- Nossa responsabilidade é garantir que o local de trabalho está livre de perigo - alerta David Michaels, alto funcionário da OSHA. - O formaldeído é um perigo."

Ele estima que existam 75 mil salões de beleza nos Estados Unidos e cerca de 500.000 pessoas que trabalham neles. A OSHA não acompanha quantos desses salões usam formol e derivados em seus produtos.


Fonte: O Globo

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